sexta-feira, 22 de abril de 2011

Série Poesias


A VALSA - Casimiro de Abreu


 

Tu, ontem,

Na dança

Que cansa,

Voavas

Co'as faces

Em rosas

Formosas

De vivo,

Lascivo

Carmim;

Na valsa

Tão falsa,

Corrias,

Fugias,

Ardente,

Contente,

Tranqüila,

Serena,

Sem pena

De mim!

 

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas...

— Eu vi!...

 

Valsavas:

— Teus belos

Cabelos,

Já soltos,

Revoltos,                                                                                           

Saltavam,

Voavam,

Brincavam

No colo

Que é meu;

E os olhos

Escuros

Tão puros,

Os olhos

Perjuros

Volvias,

Tremias,

Sorrias,

P'ra outro

Não eu!

 

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas...

— Eu vi!...

 

Meu Deus!

Eras bela

Donzela,

Valsando,

Sorrindo,

Fugindo,

Qual silfo

Risonho

Que em sonho

Nos vem!

Mas esse

Sorriso

Tão liso

Que tinhas

Nos lábios

De rosa,

Formosa,

Tu davas,

Mandavas

A quem ?!

 

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas,..

— Eu vi!...

 

Calado,

Sozinho,

Mesquinho,

Em zelos

Ardendo,

Eu vi-te

Correndo

Tão falsa

Na valsa

Veloz!

Eu triste

Vi tudo!

 

Mas mudo

Não tive

Nas galas

Das salas,

Nem falas,

Nem cantos,

Nem prantos,

Nem voz!

 

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

 

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues

Não mintas...

— Eu vi!

 

Na valsa

Cansaste;

Ficaste

Prostrada,

Turbada!

Pensavas,

Cismavas,

E estavas

Tão pálida

Então;

Qual pálida

Rosa

Mimosa

No vale

Do vento

Cruento

Batida,

Caída

Sem vida.

No chão!

 

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

— Não negues,

Não mintas...

Eu vi!

 

 

 Outro poema que eu gosto muuito!Ele tem um ritmo gostoso...ao ler você sente como se estivesse dançando um valsa mesmo!

 


“A valsa” tem, como tema central, um sujeito lírico que observa uma donzela bailar pelo salão. Os versos do poema são constituídos por duas sílabas métricas. Como bem elenca Norma Goldstein (2006, p. 29), “nesse tipo de verso, o acento cairá necessariamente sobre a última sílaba, antecedida por uma sílaba breve (não-acentuada)”.

Na- VAL (sa)
Can- SAS (te)
Fi- CAS (te)
Pros- TRA (da)
Tur- BA (da)

A metrificação do poema, dessa maneira, contribuí, decisivamente, para trazer à tona o modo ligeiro de como a valsa é apresentada e dançada pela moça. Nos versos explicitados acima, percebe-se que a moça observada pelo eu-lírico, devido ao ritmo frenético da dança, acabará, extremamente, cansada. (Texto tirado de http://www.literaturaemfoco.com/?p=3344)


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Série Poesias

Como Eu Te Amo - (Gonçalves Dias)



Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;

Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua;

Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;

Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;

Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:

                      ------------

Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
O que espero, cobiço, almejo, ou temo
De ti, só de ti pende: oh! nunca saibas
Com quanto amor eu te amo, e de que fonte
Tão terna, quanto amarga o vou nutrindo!
Esta oculta paixão, que mal suspeitas,
Que não vês, não supões, nem te eu revelo,
Só pode no silêncio achar consolo,
Na dor aumento, intérprete nas lágrimas.


————


De mim não saberás como te adoro;
      Não te direi jamais,
Se te amo, e como, e a quanto extremo chega
      Esta paixão voraz!


Se andas, sou o eco dos teus passos;
      Da tua voz, se falas;
O  murmúrio saudoso que responde
      Ao suspiro que exalas.


No odor dos teus perfumes te procuro,
      Tuas pegadas sigo;
Velo teus dias, te acompanho sempre,
      E não me vês contigo!


Oculto e ignorado me desvelo
      Por ti, que me não vês;
Aliso o teu caminho, esparjo flores,
      Onde pisam teus pés.


Mesmo lendo estes versos, que m'inspiras,
      — "Não pensa em mim", dirás:
Imagina-o, se o podes, que os meus lábios
      Não to dirão jamais!


————


Sim, eu te amo; porém nunca
Saberás do meu amor;
A minha canção singela
Traiçoeira não revela
O prêmio santo que anela
O sofrer do trovador!


Sim, eu te amo; porém nunca
Dos lábios meus saberás,
Que é fundo como a desgraça,
Que o pranto não adelgaça,
Leve, qual sombra que passa,
Ou como um sonho fugaz!


Aos meus lábios, aos meus olhos
Do silêncio imponho a lei;
Mas lá onde a dor se esquece,
Onde a luz nunca falece,
Onde o prazer sempre cresce,
Lá saberás se te amei!


E então dirás: "Objeto
Fui de santo e puro amor:
A sua canção singela;
Tudo agora me revela;
Já sei o prêmio que anela
O sofrer do trovador.


"Amou-me como se ama a luz querida,
Como se ama o silêncio, os sons, os céus,
Qual se amam cores e perfume e vida,
Os pais e a pátria, e a virtude e a Deus!"



 É um dos meus poemas favoritos!Lindíssimo!Um dos livros dos quais eu não me disfaço, infelizmente!
Infelizmente porque livros devem ser repassados, devem ter fácil acesso, a leitura deve ser difundida e livros devem ser compartilhados!
Assim acredito...
Mas meus livrinhos de poesias são minhas paixões, meus xodós!Já estão todos velhinhos, coitados, rasgados, com as páginas caindo...mas ainda são meus preferidos!=)
Meus companheiros nos melhores e piores momentos!